A partir do início do mês de Novembro, o «Café Alegria» disponibiliza aos seus clientes um livro que pode ser lido durante a pausa para um café.
«Temos uma clientela diversificada e entendemos que lhe oferecer a oportunidade de irem lendo um livro enquanto estão no café. Acho que é uma forma de motivar a leitura e criar mais um motivo que nos aproxime porque para nós um cliente é um amigo», explica Bruno Soares.
Esta acção de animação cultural - que conta com a colaboração do Instituto Bento Carqueja – iniciou-se com O caçador de luas, de Augusto Baptista.
Eis um excerto desse extraordinário livro que o autor dedicou ao saudoso Júlio Pinto, escritor de referência do nosso surrealismo.
«Pelo entardecer, monta a emboscada por detrás do outeirinho. À hora prevista, ela aparece, plena, radiosa. Ergue-se, arpão na mão direita, firme. Rápido, vigor brutal, arremessa. Um silvo persistente rasga a noite, a noite pálida.
Seja o que Deus quiser, congemina a caminho de casa. E fecha-se na sala de troféus, onde já exibe uma esplendorosa lua cheia e dois razoáveis quartos minguantes».
Augusto Baptista nasceu em Oliveira de Azeméis e reside no Porto. Jornalista de grande prestígio publicou, entre outros, Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias, O medo não podia ter tudo (com Francisco Duarte Mangas), Humor das Multidões e Floripes Negra.
No seu currículo inclui-se também colaboração na Cena Lusófona e várias exposições de fotografia.
Para conhecer melhor a sua obra pode ser consultado o blogue azulcanario.
Para além de O caçador de luas, o programa «Um livro é uma alegria» tem também disponível a colectânea de poesia Estados de Alma, de António Pinho, de que cita um excerto:
O mosquito é um insecto
Por acaso bem pequeno
Incomoda muita gente
Injectando seu veneno
Essa praga sempre ataca
Seja noite ou faça dia.
Anda sempre a zunir
Quando nos faz companhia
Pousa aqui, pousa acolá
A criar só confusão,
Não se importa de morrer
Ao peso da nossa mão
Mas, se ninguém lhe ligar
Aproveita a ocasião
De nos anestesiar
Para enterrar o ferrão
Ó que praga tão maldita
Que nos quer importunar!
Que mal fizemos a Deus
P’ra termos de o aturar?
Afinal chegou o dia
Estava-se esperançado
Encontrou-se um repelente
Para o manter afastado
Agora já não chateia
Pois procurou outro rumo
Foi chatear outra gente
Em outra banda do mundo.
António Pinho foi durante muitos anos funcionário da câmara municipal de Oliveira de Azeméis e um colaborador assíduo da imprensa local.
Aos 77 anos publicou Estados de Alma afirmando que «nunca é tarde para se fazer aquilo de que se gosta». Foi um dos fundadores e presidente da Associação de Solidariedade Social de Loureiro
Á conclusão: mais uma razão para ser cliente assíduo do «café Alegria».